O corpo no corpo: É o corpo que nós sentimos, o mais próximo ao somático. O corpo-organismo é a fisiologia disposta em seus registros enteroceptivos , propioceptivos para participar da vida em comum. É esse o corpo representado da medicina, aquele que adoece das patologias orgânicas. 2- O corpo no espelho: é o corpo das formas, a silhueta de um volume. É uma representação geométrica com valor determinado por quanto se aproximar ao ideal pré- estabelecido. É aquele que nós vemos se ele já foi visto. Esse é o corpo das dismorfofobias e o das distorções da imagem corporal. 3-O corpo na mente : esse é o corpo relatado, historiado e mistificado segundo a lógica da linguagem que o narra . É o corpo que se encarrega de certa representação designada num papel que assegure a consecução de fins comunitários. Esse é o corpo doente da histérica 4-O corpo com outro corpo: é o corpo mediado (ou que sofre a intervenção) pela presença de outro. É o corpo da intersubjetividade que enactua (emerge em) um campo vincular . É o corpo que percebe, recebe ou rejeita. Sintoniza, procura ou se desliga do sentido que se organiza em um campo vincular com outro .
Dentre esses quatro registros do corpo surge a vida psíquica, a mental, a interacional e a vincular. É no cruzamento dessas avenidas donde estaria instalado o self que seria tanto resultado quanto regulador de cada um dos modos descritos de corpo.
Um corpo é percebido próprio e interoceptivamente como um objeto-vivo entre outros objetos- vivos a partir de seu ingresso à vida comum, quer dizer, sabe que é a unidade e ao mesmo tempo faz parte de um sistema que o forma e transforma. Um corpo é tanto contorno geométrico e volume sólido quanto movimento muscular e ondas de fluídos internos. O contato com outros corpos lhe permite tornar-se corpo vivo, conceber-se movimento, e também ajuste permanente e recorrente.
Cada corpo compartilha una história com outros corpos, história que se registra nas memórias de processos realizados com fins homeostáticos. O corpo é econômico e compartilha em uma e outra interação padrões aprendidos de ajuste fisiológico. O exemplo mais elementar desta forma é o padrão de apego. Por outro lado, o corpo não é vivido apenas na dimensão da matéria mas, ao estar sujeito no intercâmbio social, adquire significado neste círculo. O significado atribuído em cada circuito social é uma propriedade distribuída, quer dizer, não pertence ao corpo nem apenas aos membros do círculo, mas ao sistema de relações gerado por eles. Dessa maneira a representação desse corpo o suplanta em sua ausência e o convoca às práticas coletivas hermenêuticas que “deslavam” o corpo original e o vestem com ícones olissémicos infinitos. Somos tantos quantos reflexos e espelhos existam. O corpo é retrato de corpo e corpo destinado à sua imagem. Mutável segundo a necessidade e o contexto, ainda que seja também um ritual de ser aquele que ele é, dados certos signos de configurações particulares. Um corpo que é o rito de seu próprio mito. Mito que o contém e organiza, permite, proibe, facilita, bloqueia registros fisiológicos possíveis, tornando-os mais ou menos prováveis dado um particular contexto. Um corpo que se olha no espelho, lugar comum na praça dos significados, comparando-se com os ideais desejados. Nesse lugar de significados, habita-se reiteradamente em operações de associação, comparação, deslocamentos que tentam fazer correspondência com definições de ser que o restringem, tantas são suas alternativas. O Grande Espelho é um um organizador teleológico que marcará os corpos de modo diferente e para buscas diferentes cada vez que mude suas direções, que, por definição, apontam para objetivos incertos e portanto móveis e de alcance impossível. O Grande Espelho parece marcar um sentido, mas sua promessa é esquiva e, quando nos aproximamos, escapa, abrindo suas asas atentas para não ser jamais capturado.
A deserção no lugar do sentido parece mover o corpo para explorações intermináveis. Tributos ao fundamento da repetência (repetição), principio do estar procurando aquilo que não está, umbral a partir do qual se começa a escrever o humano.
O corpo, que é antes de mais nada, organismo vivo, informação genética disposta para sua “autopoiesis”, reprodução e morte, ingressará, então, ao mundo metafórico do significado onde será determinado segundo as forças de ordem simbólica imperantes. A imagem corporal é uma obra conjunta, consensuada em alguma negociação das necessidades de ambos os corpos no exercício social que não apenas requer sua própria pupila, no espelho, mas a de outro que capturou a imagem, a elaborou e devolveu. O corpo se olha através desta imagem e constróe nesse ritual, sua presença. Ele se apresenta com essa aura imaginária, reflexo de desejos e domesticado em uma ilusão. Por isso o corpo recém sabe quem ele é, quando já foi olhado por outro. A impressão causada em outra pupila é a marca que essa presença inscreve no outro. A impressão está construída através de signos que remetem aos significados. Cada tempo e cultura escolhe signos que representam mundos de significados. Por exemplo magreza remeteria, em nossos tempos, ao sucesso e o sucesso à felicidade e a felicidade ao desejo de proximidade. Em uma espécie de ilusão enganadora, usamos certos signos convencionais que inscrevam tipos de presenças que nos organizam a fisiologia do dono e do impressionado. Essa seria a lógica que utilizam, por exemplo, os “vigoréxicos”, que transformam o corpo em silhueta muscular tentando inscrever presença masculina: força e determinação. Presença que sustenta sua própria coerência com relação à impressão que essa experiência faz nos outros. Isso quer dizer, nós utilizamos signos capazes de : entregar rápida informação taxonômica; ser competentes na simulação; ser aptos para copiar ou falsificar; ser especialistas em aparentar e imitar. Com o signo pretendemos dar informação, comunicar quem nós somos ou quem pretendemos simulamos ou sonhamos ser. O signo, que não é a mesma coisa, mas
aquilo que a re-presenta, aquilo que a presume é apenas uma parcialidade, mas é eficiente em seu propósito. Por essa razão é que copiar a aparência é um jogo grato ao humano, destinado a enganar a taxonomia. É nesse jogo de imagens que acontece a pretensão de ser, o jogo de Narciso. Na construção da imagem é que existe uma dança sedutora que induz ao engano e atrai pelas suas promessas. Uma espécie de jogo de indução e sedução. Uma dobra enganadora do pensamento que vai requerer a capacidade de discriminar finalmente, antes de concluir, a que tipo de informação estamos submetidos e como coordenamos com o resto das ações.
Resulta então que o corpo se vive em registros fisiológicos que estão sempre conectados com outros registros do ambiente. A partir da percepção da luz, o calor, os sons, até as presenças de outros corpos não são alheias à sua maneira de operar. Até aqui não existem diferenças com as bactérias nem com os peixes-boi. Nosso umbral está depois que nos caímos nessa rede de sustentação e captura que colhe o corpo até humanizá-lo, até torná-lo quase substituível, mesmo que seja parcialmente, através do símbolo, que lhe dará como prenda um objeto-imagem para circular com licença de existência. Esse Objeto–corpo não corresponde completamente ao corpo de nenhum indivíduo, mas o representa além de si mesmo, estendendo a existência além da morte e criando a ilusão de eternidade. O corpo só se completa e faz existência quando pode articular todos e cada um de seus registros: a integração será a relação das partes, fazendo de imagem, matéria e símbolo um nó recursivo em si mesmo.
O corpo se dispõe à trama comum através de zonas de contato. Existem as lisas, extensas e expostas como a pele ou recolhidas, úmidas, como o tubo digestivo ou o respiratório. Também existem as continentes/excrecentes de entrada e saída como os genitais. As partes do corpo passam a ser o suporte material da atividade metafórica.
Receber, conter, expulsar serão primeiramente verbos orgânicos e, depois, psíquicos. Uma meta-forma cartesiana em seu método já que ele divide a realidade em duas partes: o que é meu está dentro, o inaceitável está fora. Nessa lógica funda-se o bom-o ruim; o amigo-o inimigo, ficando o que é ameaçador tão fora quanto seja possível, sendo projetado para outros corpos. O impacto dessas projeções, quer dizer, a maneira como seremos tratados se formos enxergados como ameaçadores, será parte dos impactos que prejudicam o bem-estar conjunto e parte do trabalho de limpeza e proteção que o corpo deverá realizar constantemente em sua co-habitação com outros. O corpo é, por isso, o ponto fronteiriço da dinâmica social, a fábrica da metáfora relacional. Um referente objetivo do subjetivo. Um instrumento do subjetivo que o pre-forma através da repetição do símbolo permutado e o dispõe em sua narrativa protéica.
O corpo é, além da história fisiológica, uma história de representações e de procedimentos dessa integração de experiências. O corpo precisou ser treinado para ser um “soma” humano na sociedade onde se desenvolveu. Então, o corpo com outros corpos, não é mais apenas imitação mas parte de um sistema de coordenações de coordenações. O corpo, novamente, transcende a si mesmo para o bem comum, entendido como as coordenações destinadas a preencher os vazios do concerto das faltas. O corpo passa ao lugar dessas alianças ao ter sido marcado, primeiramente e domesticamente, pela presença/ausência de seus iniciadores: a que dá, o que tira, Mãe e Pai, e pelo desejo–falta que circula na mitologia do lar ao fazer com que o corpo se ajuste por associação, contigüidade, semelhança, contraste ou oposição com os outros parentes-imagens que foram chamados na história transgeneracional a ocupar esse ou outros lugares (papéis). O corpo é mistificado, utilizado no roteiro comunitário, subjugando seu desejo ao desejo comum. Dessa maneira o corpo é vivido mais além, no lugar dos espelhos. Porém, o corpo pode retomar uma parte de sua mesmidade, como se alguma parte de si mesmo não fosse conhecida neste roteiro, mas num outro, fora do doméstico, quando ingressa em outros mitos: casal, profissão, clube, hobbies. É a palavra que com-move a novos registros de desejo e movimento. O corpo é essencialmente plástico e de destino corporativo.
Um corpo se acopla a outro corpo ao se sintonizar em seu tom vital, deixando que a energia despertada no encontro/desencontro circule, organize-se segundo as formas dispostas, se constitua em libido e funcione como a ligação entre matéria, imagem e símbolo. A história dessa ligação torna-se padrão em sua recorrência, tenta-se idêntica cada vez, sendo essa falência na identidade idêntica, a dinâmica permanente deste corpo nunca completo, nem finalizado, em permanente remodelação (construção/ deconstrução). Nunca volta à configuração fisiológica criada ao mesmo lugar, ainda que tente, já que se consegue o calço com a origem, a dinâmica do ajuste morreria, deixaria de rodar para o sentido fugaz. Um corpo unido a outro corpo está unido a um terceiro corpo, que por sua vez, está unido a outro, formando uma cadeia fisiológica que tece uma trama sensorial e metafórica além do próprio corpo.
O corpo, dessa maneira, participa de uma coerência global, não necessariamente consciente, onde se configura e se representa a cooperação na ação e a coordenação para um sentido comum. O corpo, então, é biologia ressonante, é intersubjetividade colaborativa, é sintonia, é abertura que se deixa enlaçar tanto a partir dos hiatos cognitivos, onde habita o mais representativo , até o mais fisiológico, onde habitam as formas sólidas da energia.
O corpo é instituído cada vez e por cada um num cruzamento de dimensões. Neste ponto eles atravessam e se integram: o soma, que ao ser matéria perceptível e moldável se transforma num organismo; a imagem, que vai sendo criada na interação vincular; a identidade, que é o acordo no papel social e privado e a intersubjetividade que é a coordenação da experiência para um sentido.
O corpo se funda como tal entre essas quatro avenidas. E é nesse cruzamento onde o self surge no meta-nível como uma maneira integrativa de integrar os dos discursos do corpo. Vamos passar a desmembrar as narrativas do corpo em:
1- Corpo no corpo: O soma dotado de suas fantasias conscientes e inconscientes se apresenta através da fisiologia, registro silencioso e transparente na saúde, central e escandaloso na doença. Trata-se de um corpo introceptor, proprioceptivo, sensitivo. Um corpo-sentido e que
sente em suas funções de intercâmbio dentro/fora; tensão/relaxamento; pressão/ liberdade; excitação/repouso; ritmo/sobressalto. Um corpo dicotômico por essência que supõe a lógica da presença/ausência como a diferença que constrói informação. Um corpo de dados claros e mensuráveis, previsível dentro desses limites. O corpo que a medicina capturou como objeto de análise, intervenção e culto. Esse é o corpo que chamaremos de corpo no corpo, o mais próximo à informação geral de um organismo vivo da espécie humana em seu ramo homo-sapiens. Nesse corpo estão as formas básicas do que é vivo: os instintos, por exemplo. Os procedimentos básicos de um animal bípede, omnívoro e mamífero seriam: a. a Busca: sistema de motivação e
“expectação”, possivelmente da aprendizagem relacionada com o entusiasmo; o reconhecimento de necessidades e ao aprendizado; b. a Raiva: sistema de destruição relacionada com a proteção do próprio, com aniquilar o inimigo e imobilizar ao suposto agressor; c. o Medo: sistema de ansiedades ativado para defender-se e proteger do dano o tecido que encontra diferentes formas de manifestação segundo a chave de perigo do meio ambiente; d. o Desejo sexual: sistema de busca, sedução e consecução da reprodução e a companhia sexual entre fêmeas e machos; e. o cuidado: sistema de proximidade que facilita a nutrição e o desenvolvimento das crias e marca a filiação; f. o Pânico: sistema de alarme destinado à conservação da vida ou suas condições; g. o Jogo: sistema destinado a praticar em condições favoráveis, e sem conseqüências perigosas, habilidades da vida real ou criação de soluções alternativas que supõem ligarse com fins específicos; h. o Poder: sistema de dominâncias e submissões que hierarquizam o grupo, controla a ansiedade grupal, designa território e dispõe parceiros sexuais.
Nesse corpo, portanto, se encontram inscritos os padrões de apego, os arousal de ansiedade, prazer, nojo, raiva, os tons ansiosos e motivacionais. Podemos dizer que é uma ordem organísmica de corpo, um texto escrito no funcionamento dos tecidos vivos. Este corpo adoece no psicossomático e no somático; é o corpo da doença da maneira como nós a conhecemos em nossa medicina.
2- Corpo no espelho: Esse é o corpo das formas geométricas, do volume tridimensional, o que as anoréxicas gostariam de deixar bidimensional, tão plano quanto um ícone da estrada. É o sólido que corta a luz e o tempo. Quando eu vejo no espelho otempo se torna linear. Aquilo que vejo lá, já aconteceu, com relação a isso que sinto aqui.
É um corpo refletido na pupila da mãe, no brilho do casal, entre os pares o uma vitrine pública. É o corpo do espelho do outro. O corpo-Visto, é o corpo tocado pelo olhar do outro, já não é apenas o que e vejo mas o que eu vejo naquilo que eu vejo. O corpo que me atribuíram de acordo a quem, porque e quando (segundo alguém, por alguma razão e em algum momento). O corpo que sofre um corte com a borda do espelho. Eu sou e não sou essa imagem, porque carece de algo essencial e porém me antecede, me apresenta para outro, quem, por sua vez, me outorga um valor ético, estético e de intercâmbio.
É aquele corpo, aquele que foi, aquele que olho daqui. Juntos esse e este constróem diálogo, um espaço onde circula um afeto entre ambos registros. Esse afeto procura representante no corpo, bem como a representação procura um corpo onde possa se tornar carne. A cena no espelho cria um espaço de comunicação metafórica onde representação e afeto se tornarão plásticos até tentar se fundir. Nesse espelho poderei portar a imagem daquilo que falta; nesse espaço será criado o imaginário, um imaginário que sustenta os momentos fugazes, quer dizer, um sustentador em falta.
Dessa maneira, a imagem, livre de compromissos fisiológicos, poderá representar a esse soma em outros lugares e sairá ao mercado para ser submetida ao controle de fiscais sociais que a compararão constantemente com seus ideais. Como diria Schreber “ser é ser outro, ser todos os outros sem a menor possibilidade de ser autêntico”, tornando o ser uma coisa incerta como o reflexo de infinitas imagens dispersas e variáveis em suas definições. Nesse esbanjamento, a imagem, transeunte imortal, encontra respostas no como sou desejado ou requerido por outro. Quando eu voltar para mim, a imagem irá cimentando-se como um código através do qual me vejo corpo-visto. Será integrada, nessa imagem de mim, o olhar forasteiro, tornando equiparável meu desejo ao dos outros através de sucessivas distorções .
O corpo do espelho é então o corpo da silhueta, aquele que vai adoecer pelas dismorfofobias e nas chamadas distorções da imagem corporal .
3- Corpo na mente: Outro não apenas nos representa mas nos descreve, nos entrega palavras que nos dão ordens. As palavras envolvem o corpo, o atravessam, o tornam falante, falador, comunicador de signos fonéticos. Humanizam-no na linguagem que é como uma rede lógica que cai ao corpo para dar-lhe uma ordem social. A comunidade
requer uma ordem. E nesse corpo será utilizada a legislação logocêntrica que utiliza operações simples, tais como: ampliar, diminuir, girar, polarizar, inverter, rodar, trasladar, complementar, comutar, substituir, repetir, “seriar”, degradar em escala, projetar, deslocar, substituir, polarizar condensar, isolar, dissociar, incluir, substituir.
Todos processos lógicos que mobilizam e dispõem ao acordo e à coordenação. Esse corpo é aquele que se submete à cena comum capturado por um papel designado. Este corpo perde de si mesmo para ganhar de nós. O corpo veste o hábito designado, se habitua a fazer esse papel. Com o papel se faz alguma coisa. Quer dizer, se encontra no âmbito da interação. O papel, obviamente restringe e obviamente, outra vez, outorga sentido na cena grupal (seja doméstica ou pública). A partir do papel, o corpo cumpre tarefas pré-estabelecidas, como a de representar uma posição relativa aos outros. A partir do papel, regula-se também a motivação. Cada papel tem uma cota de desejo disposto a regular a distância. O papel é uma atribuição unitária e completa que liga com coesão o real do corpo com o esperado do grupo (o real com o ideal) e que está regido pelas leis da administração interna (super-eu).
O papel é a exigência no cenário comum que assegura a correta configuração da obra corporativa. É o corte claro entre minha função e tua função. É a partição de ocupações feita por uma lei invisível que lega e liga segundo a necessidade. Este corpo “en-rolado” (em seu papel) para fins que o transcendem, até por gerações de filiação, pode inclinar-se a pensar sobre si mesmo para compreender a distribuição desses significados, nem sempre alcançando variá-los, tamanha é sua força. Este é um corpo da interação que estabelece a identidade da mitologia de grupo. É nesta cosmogonia na qual o corpo se legitima, justifica e preserva, dentre os vários níveis de consciência implicados nas múltiplas associações que contém cada papel. O corpo definido em seu papel tenta diminuir a incerteza e alcançar um equilíbrio que o realiza em cada interação. Este é o corpo que adoece na histeria, o corpo que foi pensado de uma maneira e que pode adoecer dessa mesma maneira.
Corpo com outro corpo: Outro não é apenas sua voz feita signo nas palavras, mas toda sua biologia vibrante que ressoa como a própria. A sintonia de corpos é uma radical comunicação empática onde acontece outro espelho, desta vez aquele dos ajustes finos dos sistemas nervosos que regulam os ritmos de movimentos, batidas e tensões de
um e outro tornando-os homólogos por momentos.
É o corpo oferecido para um outro num relacionamento. É o corpo vinculado que procura un objetivo comum. Este é o corpo que apreende como-estar-com, fazendo uso de procedimentos exercitados desde os inícios da vida comum. A presença desse outro completa uma falta e entrega sentido. Um corpo com outro corpo constróem juntos um campo vincular em busca de sentido.
Este é o corpo que tenta afinidade ao permitir ser guiado por esse outro corpo. Este corpo é ativado a partir do soma até fazer, com outro, um encontro de intimidade que responde à pergunta O que você quer de mim? /O que eu quero de você? A motivação do encontro é negociada em distâncias, intensidades, compromisso somático até coordenar uma ação como resultado do encontro. Este corpo toma e deforma o somático até torná-lo em-ação, quer dizer, um emergente comum de ato e significado conjunto.
Tratar-se-ía de uma ação, conseqüência desta ativação comum, única e não repetível.
Aqui se produz a matéria-prima da vida relacional e individual, já que é nessa área onde, apesar da ressonância com outro, o corpo individual negocia seus limites para sustentar-se unitário e conexo por sua vez. Engrenar-se um corpo com outro para ativar fantasias somáticas e culturais que, por se tratar de um acoplamento com um corpo falante, seria o necessário para completar o acontecimento de ser em comunidade. O corpo é assim moldado pelo corpo de outro do qual toma e ao qual dá, numa mesma operação, motivação, conteúdo e significado. Alí se organiza uma configuração que conserva memória e para a qual retornamos num ato de economia estrutural.
Esse é o corpo que guia a eleição do parceiro, já que, não seria escolhida apenas uma pessoa mas a intersubjetividade possível de criar com ela.
Em conclusão, foram descritos quatro registros do corpo que, em conjunto, participam na experiência humana de ser-em, ser-com, ser-para e ser.
REFERÊNCIAS
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Corbin Alain Historia del corpo Santillana España 2005
Lolas Fernando Mas allá del corpo Ed Universitaria , Santiago 1997
Maturana, Varela. El árbol del conocimiento Ed Universitaria Santiago1989
Nasio , D. Los gritos del corpo Paidos Argentina 1996
Ogden Thomas.La frontera primaria d e la experiencia humana Julian Yébenes 1992
Mitchell ,Stephen Conceptos relacionales en psicoanálisis Siglo XXI Barcelona 1993
Popper Kart El corpo y la mente Paidos Barcelona 1997
Varela Francisco El fenómeno de la vida Dolmen Santiago Chile 2000
Dra Patricia Cordella*
Psiquiatra.
Professor Auxiliar Departamento de Psiquiatria Pontifícia Universidade Católica do Chile
Mestrado Psicologia menção Psicoanálise
Chefe Unidade trastorno de alimentação Pontifícia Universidade Católica do Chile